Núcleo de Estudos de Gênero produzirá acervo de história e memória LGBT no ABC
No mês de outubro, teve início um novo projeto de pesquisa do Núcleo de Estudos de Gênero (NEG), o História e Memória LGBT no ABC. Na quinta-feira, dia 5, o grupo apresentou uma sistematização inicial e o cronograma de atividades que, ao final, resultarão em um acervo de história e memória das pessoas LBGTQIAPN+ nas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano.
Cintia Lima Crescêncio, Mestre e Doutora em História pelo Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que a ideia de construir um acervo da trajetória LBGT parte do compromisso político que a História deve a todas as pessoas que tiveram suas existências negadas em documentos oficiais, jornais e fotografias: “Esse compromisso tem valor inestimável para pessoas negras, mulheres e pessoas LGBT”.
“Os esforços de construção da história de pessoas LGBT, especialmente a partir de documentos produzidos por estas mesmas pessoas, é um projeto ainda em desenvolvimento no Brasil como um todo. Este projeto quer se somar a tais iniciativas por entender que o ABC carece de mais atividades nesse sentido”, complementa a professora da Licenciatura em Ciências Humanas na UFABC.
Grupo de Pesquisa em História e Memória LGBT no ABC apresenta projeto em reunião do Núcleo de Estudos de Gênero, em 5 de outubro de 2023. Crédito: Michelle Sato Frigo
Em relação aos desafios de desenvolver tal projeto na região metropolitana de São Paulo, a colaboradora discente Juliana Thomaz esclarece que são poucos os registros públicos sobre a população LGBTQIAPN+ no ABC: “Os movimentos sociais e as pessoas LGBT+ do território são os/as maiores responsáveis pela memória LGBT+ daqui, por isso, a pesquisa busca percorrer parte dessa teia de relações em busca de cuidar/remontar essas histórias”.
Juliana é psicóloga e foi uma das idealizadoras do Projeto “Trajeto Afeto” do Sesc Santo André, que realizou um mapeamento de lugares acolhedores e seguros para a população LGBT+ no ABCDMRR em 2022. O novo levantamento, conta, já soma mais de 100 nomes entre pessoas, lugares e organizações: “A vontade é trazer tudo, mas no tempo que temos, precisaremos fazer recortes. Sem dúvida Neon Cunha é um grande nome, mas temos muitos outros de grande relevância como Leo Paulino, Glória Ferreira, Rakyllaine Rios, Samara Arkcélio, Bar da Marli”, exemplifica.
Sobre a necessidade dos delimitar alguns contornos, o grupo entende que as lesbianidades e transmasculinidades devem receber atenção especial: “Acho que existe uma invisibilidade e apagamento histórico de ambas e a consequência é a escassez de dados que possam embasar ações de cuidado e políticas públicas para esses grupos”, conclui.
Outubro será o primeiro mês de trabalho da equipe constituída. Haverá formação em História Oral (uma das metodologias definidas para este projeto), levantamento prévio, definição das categorias para a pesquisa, mapeamento de acervos da região, outros acervos e coleções LGBTQIAPN+ e outros projetos de memória. Em novembro e dezembro, o grupo irá a campo para refinar estratégias de entrevista, roteiros e visitas a acervos e arquivos, além de encontros com organizações da sociedade civil para compreender o que já tem sido produzido. No primeiro mês do próximo ano, as entrevistas começarão de fato.
Além de Julina, o projeto História e Memória LGBT no ABC também é composto (da esquerda para direita) por Pol Iryo, bacharel em Ciências e Humanidades e graduando em Filosofia e Políticas Públicas, a coordenado Marcela Boni e Marcos Tolentino, mestre e doutorando em História.
Redes Sociais