Nota de Repúdio

O Núcleo de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros da Universidade Federal do ABC (NEAB/UFABC) vem publicamente repudiar o ataque ocorrido durante o lançamento do livro “A razão africana - breve história do pensamento africano”, do professor Muryatan Barbosa, membro deste núcleo.

O lançamento acontecia no âmbito do seminário interno do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Mundial (PPG-EPM). Esta atividade, em especial, era coorganizada pelo PPG-EPM, pelo NEAB/UFABC e pelo Bacharelado em Relações Internacionais (BRI) e contaria com os comentários do professor Flávio Francisco, também integrante do NEAB.

Após o início da atividade, as mais de quarenta pessoas presentes na atividade foram surpreendidas pela intervenção de um dos invasores que tomou a palavra e, em seguida, começou a colocar música alta, a exibir cenas de pornografia e a projetar um vídeo de uma marcha nazista.

Apesar de a coordenadora da atividade, a professora Maria Carlotto, ter tentado excluir os invasores, eles conseguiram assumir o controle da sala, inclusive com acesso aos microfones, o que inviabilizou a continuidade da atividade.

Infelizmente, desde a ampliação das atividades virtuais, temos visto com muita frequência situações como a que ocorreu no dia 13 de outubro de 2020. São muitos os relatos, por parte de instituições educacionais e de organizações sociais, acerca dessas tentativas de intimidação e silenciamento.

Desse modo, consideramos que acontecimentos como esses não estão desconectados de outras ações que na sociedade brasileira têm feito apologia ao nazismo, a outros regimes totalitários e a grupos de extremadireita.

A partir dos recorrentes casos no âmbito de atividades acadêmicas, de modo particular, compreendemos que essas práticas integram os ataques sistemáticos que as instituições de ensino superior têm enfrentado nos últimos tempos, sobretudo, quando promovem debates sobre temáticas que expõem as desigualdades e os processos estruturais de discriminação constitutivos do país.

Ataques como esse, portanto, não são apenas contra toda a comunidade acadêmica, mas são também contra a possibilidade de uma vivência democrática em todos os ambientes da nossa sociedade.

Diante disso, repudiamos a atitude dos invasores e reforçamos a importância de providências institucionais amplas - como as que já foram indicadas na manhã de hoje pela reitoria da UFABC - tanto no sentido de investigação do caso em questão, quanto no oferecimento de condições seguras para a continuidade das nossas atividades acadêmicas.

São Bernardo do Campo/SP, 14 de outubro de 2020.

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